18 de setembro de 2006

Paulistânias

-se o sr. Haroldo de Campos fosse vivo, seria meu quase-vizinho. Descobri que moro apenas a 30 minutos de caminhada descompromissada da Casa das Rosas. Trinta minutinhos a pé, para as proporções de São Paulo, não são nada de mais. Farei esse caminho mais vezes. Assobiando Webern. Ou declamando Pound. Ou simplesmente como uma pessoa normal.

-um amigo meu levou-me a um restaurante num shopping na Paulista especializado em curry. Tudo ao curry. Peixe com curry. Frango com curry. Lombo com curry. Salada com curry. Arroz com curry. Curry com curry. E não é só: são quatro diferentes níveis de curry: suave, médio, forte e extra-forte. O nível low, suave, já me fez lacrimejar e dar muita risada. Engraçado esse efeito curry. O extra-forte deve proporcionar uma experiência transcendental. Dá-lhe água mineral.

-percebe-se que esta é uma cidade estranha quando algum amigo seu inventa de ir numa padaria às 4 da manhã e tem-se de esperar na fila para pedir um cappuccino e um pão de queijo.

-nada como a rotina para tornar os rostos conhecidos. Isso em qualquer lugar. As pessoas do ônibus, do metrô, da padoca, começam a compôr um universo familiar. Por maior que seja a cidade, tecemos uma familiaridade ao nosso redor: o cobrador que cantarola sertanejo, a menina de olhos tristes do ônibus, o funcionário da prefeitura que varre a calçada, o tio do carro amarelo no parque Ibirapuera, a trocadora simpática do metrô.

-sempre quando falta assunto pode-se acender uma animadíssima conversa sobre itinerários de ônibus. Sempre. Ganha quem souber o caminho mais curto e rápido.

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