15 de junho de 2008

Sobre artistas: uma hipótese

Guardou todas as histórias e, também, as estórias que tinha numa bonita caixa. Como não sabia muito bem que fim dar a elas, continuou depositando as novas histórias e estórias que aprendia - banais ou fantásticas - na caixa, sem se preocupar com seus destinos. Lá estariam, aparentemente, seguras. O tempo passava e sua poupança de contos engordava.

Um dia, depois de perceber que passara meses sem coletar nenhuma história (ou estória) digna de se guardar, resolveu abrir a caixa para relembrar alguma coisa que trouxesse algum colorido à alma. Qual não foi a surpresa ao ver que na caixa sobravam apenas restos desbotados e quase indistinguíveis da sua coleção de histórias? Não havia sobrado nenhum conto da carochinha inteiro para contar. Estava ilhado num mundo sem memória. O que faria com as novas histórias que chegassem? Não havia caixas confiáveis para guardá-las.

Restava, porém, uma tática que ainda não tentara. Não armazenaria mais as histórias, mas usaria suas cores para pintar as paredes de um jeito que as formas ali impregnadas se encarregassem de contá-las novamente, sempre que se olhasse para elas.

Até que deu certo. Às vezes a tinta mudava um pouco de tom ou o traço não saía muito exato e a história acabava ficando um pouco diferente da versão original. Às vezes, também acontecia, outros olhavam os signos coloridos e interpretavam as hitórias do jeito que bem entendiam. Era o preço de continuar a preservar suas histórias: torná-las visíveis e desistir da idéia de enfurná-las em caixas imateriais.

Um comentário:

Juliana Bragança disse...

gostei da hipotese, sera q é assim mesmo??