28 de junho de 2009

Carta a D.: História de um amor



Ok, se você já é leitor da casa, sabe que o assunto por aqui é diversificado, às vezes meio ralo, mas quase nunca piegas. Não, pieguice, chororôs, novelas mexicanas, Adriana Calcanhoto, Prozac, Gabriel Chalita não fazem parte dos tags do Hora do Chá. Nada contra, mas nada a favor também.

Inesperadamente, uma querida amiga emprestou-me o livro "Carta a D.: História de um amor" e depois de poucas horas de leitura (tem apenas 70 páginas, Ed. Cosac&Naify) o livro do filósofo André Gorz ficou sendo um dos melhores livros não-ficção que já li.

O livro é o último redigido pelo escritor austríaco André Gorz e trata-se de uma carta à sua esposa, que há anos vem sofrendo de uma doença crônica. Os dois estavam na casa dos 80 anos de idade. A carta que André redige, uma declaração de amor lúcida, franca, onde ele refaz todo o percurso deles como casal, é terminada em junho de 2006. André relata a impossibilidade de imaginar a sequência da sua vida com a iminente morte de sua esposa Dorine e, em setembro de 2006, os jornais anunciariam a morte sincrônica do casal.

Mas toda a carta me inspirou um sopro fresco de vida, especialmente, quando André descreve a personalidade vivaz de sua esposa, em contraste com a sua própria. Apenas uma degustação:

"...eu havia chegado à idade em que a gente se pergunta o que fez da própria vida, o que queria ter feito dela. Talvez a impressão de não ter vivido a minha vida, de tê-la sempre observado à distância, de só ter desenvolvido um lado de mim mesmo, e de ser pobre como pessoa. Você era e sempre tinha sido mais rica que eu. Você se desenvolvia em todas as suas dimensões. Estava firme em sua vida, enquanto eu sempre me apressara a passar à tarefa seguinte, como se a nossa vida só fosse começar mais tarde." pg. 48.

2 comentários:

Lívia disse...

Mari, fantástico! Na verdade, tinha certeza que vc iria gostar do livro. O André escreve com uma sinceridade gritante...Depois de ler o seu post, me lembrei da história dos pais do marido da minha tia. Ele faleceu numa sexta-feira. A esposa, quando chegou ao velório, passou mal, foi para o hospital e morreu também. Sei lá, esta história de que no casamento duas pessoas se tornam uma só carne é muito mais profunda que o nosso entendimento!!!!

Anônimo disse...

Nossa, me parece que ele fala de algo que muitos falam, mas de uma maneira que muito poucos falam.
Alex