17 de maio de 2011

Quantos toques?



Hoje de manhã, ao tentar passar pela catraca do ônibus, percebi que se esgotara os créditos do meu bilhete único e tive de pagar em moeda. Mas, olha lá! O cobrador dormia um sono tão gostoso. E aí? Aquela situação: eu sussurro? eu chamo? grito? bato na bandeja? cutuco? E se ele se assusta? Enfim, após chamá-lo sem sucesso "seu cobradoooor...", resolvi apelar para o toque.

Com medo de interferir de forma brusca no seu sono, simplesmente segurei no seu braço, com todos os dedos e toda a palma da minha mão, sem apertar muito, mas com uma pressão suficiente para que ele notasse. Funcionou. Ele acordou de leve, e em seguida sorriu, um sorriso bem largo - que representado em emoticons seria um :D

Fora os esbarrões, as cotoveladas, bundadas, reladas de dedos na hora de pagar alguma coisa, encostos acidentais, é muito raro tocarmos, deliberadamente, em pessoas estranhas. Mesmo no transporte público, quando alguém dorme no seu lado e afrouxa a abertura das pernas até o joelho tocar no nosso, o instinto é nos recolhermos e nos afastarmos. Qual é a marca que delimita a atitude de autoproteção natural e uma vida-bolha? Será que dá pra diminuir o volume da fobia e tentar conferir um pouco mais de gentileza nas nossas relações? E como o outro, que também está acostumado à vida-bolha da metrópole, vai reagir?

Coisas que fiquei pensando. Não tenho respostas ainda. Só acho que o cobrador deve ter sorrido porque já está de saco cheio de ser cutucado.

*foto do projeto Touching Strangers do fotógrafo estadunidense Richard Renaldi - as pessoas na foto não se conhecem, mas se tocaram para as lentes do fotógrafo.

5 comentários:

Anônimo disse...

Amei seu post! Aliás vc escreve muito bem. Já pensou em escrever um livro?...
bjos

Gabi Serio dos Santos disse...

Ah...sensacional seu blog!! estava pra dar uma passada por aqui faz tempo mas nunca conseguia!! Amei esse post, eu sempre fica filosofando nas minhas viagens de ônibus também, viajando mesmo...tenho até uns rascunhos pra fazer um livro só sobre histórias de ônibus...quem sabe a gente não junta as nossas...haha..e também vim agradecer por toda força que você dá para o olheosmuros também viu?! :) obrigada mesmo!

Tiago Elídio disse...

adorei! pequenas ações, gdes diferenças!

Paola P. disse...

Outro dia tava pensando nisso no metrô, pensando "e se eu fizesse cafuné em alguém? Desses que a pessoa derrete?" bom ao certo a pessoa daria um pulo se a tocasse e outra imagine eu que tenho vergonha de várias coisas, nunca que faria isso,rs, mas fiquei pensando...

hora do cha disse...

suhesues