28 de dezembro de 2002

Sessão da tarde

Disposta a transformar o ócio de final de ano num ócio (um pouquinho mais) cultural, ontem arrastei minha mãe para o Cinearte e fomos assistir ao documentário Janela da Alma dos diretores João Jardim e Walter Carvalho.



Excetuando a presença de um animado grupo de quatro senhoras comendo balas (convenientemente, aquelas envoltas em papel celofane) durante a sessão (me pareceu que alguma delas era meio surda também), foi uma hora e pouco muito bem aproveitada.

"Janelas da Alma" é composto por depoimentos de 19 portadores de espécies variadas de deficiências visuais, desde miopia a cegueira total. Entre eles, Wim Wenders, José Saramago, João Ubaldo, Hermeto Paschoal, Oliver Sacks, Marieta Severo e outros escritores, poetas, fotógrafos e cineastas mais. Todos falam sobre as diferentes formas de olhar.

Se o olho é a janela da alma, a janela em si não vê nada. Quem observa, é o olho por detrás dela. E o que acontece quando as janelas não são tão límpidas e transparentes como deveriam ser? Eis o motivo pelo qual os entrevistados revelam a importância do olho da mente. Entre eles há um fotógrafo francês que é cego. A essência de seu trabalho é materializar as imagens que ele visualiza mentalmente.

O que assusta e encanta, é descobrir como deixamos de ser seletivos com o que vemos, e como hoje, mais do que nunca, a imagem é tão saturada, massificada, que perdeu grande parte do valor de ser atentamente observada.

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