7 de janeiro de 2003

Da série: lapsos de memória



Muitas vezes durante o dia acontecem coisas estranhas ou interessantes, dignas de serem lembradas, quem sabe até publicadas no blog! Mas quem disse que eu, estando longe de um pedaço de celulose e de uma reles caneta bic, consigo me lembrar dessas coisas na hora que me convém? À vezes chego mesmo a pensar que sofro de caduquice precoce ou de algum mal cognitivo, sei lá.
Freud talvez explicaria... ou seria o vazio lacaniano ganhando proporções antes jamais imaginadas? Ou a superdosagem de informações do avantajado organismo comunicacional frenético pós-moderno, provocando curtos em meus sistemas. Coisas horríveis.

E aí, depois de matutar nisso tudo, deparo com este trecho no livro "O amor nos tempos do cólera":

Quando atentou para seus primeiros esquecimentos, apelou para um recurso que tinha ouvido de um dos seus professores na Escola de Medicina: "Quem não tem memória faz uma de papel." Mas foi uma ilusão efêmera, pois havia chegado ao extremo de esquecer o que queriam dizer as notas mnemônicas que enfiava nos bolsos, percorria a casa procurando os óculos que tinha no nariz, tornava a dar volta à chave depois de trancar a porta, e perdia o fio da leitura por esquecer as premissas dos argumentos ou filiação dos personagens. Mas o que mais o inquietava era a desconfiança que tinha da própria razão: pouco a pouco, num naufrágio inelutável, sentia que ia perdendo o sentido da justiça. [Gabriel García Márquez]

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