10 de fevereiro de 2003

Arte e pirações - parte II

Se preferir, leia primeiramente o texto anterior, depois este aqui. Este é uma espécie de PS.

Sobre arte, uma coisa interessante que ouvi domingo passado num programa de entrevistas com Muniz Sodré: arte é arte enquanto propõe uma interferência simbólica no real. Do contrário, é o mero desejo de fama.

E num texto chamado Os paralelos em Tolstói, publicado no final do livro O diabo e outras histórias de Liév Tolstói (editora Cosac & Naify), Victor Chklóvski diz:

"Para produzir um fato artístico a partir de um objeto, deve-se destacar este último dos fatos da vida. Para isso é necessário sacudir as coisas do mesmo modo que Ivan, o Terrível, costumava sacudir seu lacaio. É necessário extraí-los do contexto de associações habituais, revolvê-las como lenha no fogo. O artista é sempre o instigador de uma revolta das coisas. Com os poetas, as coisas se amotinam, livram-se dos velhos nomes e, ao assumir outros novos, adquirem um novo aspecto. O poeta usa imagens: tropos, símiles. Chama fogo de flor vermelha, apõe novos epítetos a velhos nomes. (...) Desse modo, o poeta realiza um 'deslocamento semântico'. Ele retira uma noção do plano semântico no qual é normalmente encontrada e, com a ajuda de uma palavra (tropo), transfere-a para um novo plano semântico. Somos abalados pela novidade produzida ao se dispor o objeto em um novo ambiente. Uma nova palavra ajusta-se ao objeto como um vestido novo. Esse é um dos modos de converter um objeto em algo palpável, algo capaz de se tornar material de arte."

nota: antes que me chamem de chata, prometo escrever coisas mais desedificantes nas próximas atualizações.

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