1 de julho de 2004

Da série: Leituras de greve

Li nesta última semana "Um antropólogo em Marte" do neurologista e escritor Oliver Sacks (Cia das Letras).

Dentre os 7 casos paradoxais que ele narra, um deles é sobre um pintor que, ao sofrer um pequeno acidente automobilístico, começa a enxergar tudo em preto e branco, tornando-se um portador de daltonismo completo (acromatopsia cerebral). O inédito deste caso, segundo dr. Sacks, é que o daltonismo é uma doença congênita e não era conhecido nenhum caso sobre um surgimento tão abrupto da doença num indivíduo.

Sobre o estranho caso, dr. Sacks diz ser "duplamente intrigante sua ocorrência num artista, um pintor para quem a cor tinha uma importância primordial, e que pode tanto descrever como pintar diretamente o que lhe aconteceu e assim transmitir a totalidade da estranheza, aflição e realidade de sua condição".

Discorrendo sobre as adaptações do sr. I. (o pintor daltônico) de um ponto de vista extremamente humano, dr. Sacks vai explicando muitas coisas sobre o comportamento da percepção visual e cromática no nosso cérebro: "as cores não estão 'lá' no mundo, nem são (como sustentava a teoria clássica) um correlato automático do comprimento de onda [da luz], mas são construídas pelo cérebro. (...) a visão colorida, na vida real, é parte integrante da nossa experiência total, está ligada a nossas categorizações e valores, torna-se para cada um de nós uma parte da nossa vida e nosso mundo, uma parte de nós. (...) a cor se funde com a memória, com expectativas, associações e desejos de criar um mundo com repercurssão e sentido para cada um de nós".

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