20 de agosto de 2005

O advérbio non grato

A esperança que se retarda deixa o coração doente, mas o anseio satisfeito é árvore da vida (Provérbios 13.12)

Um dia ouvi sobre um bebê (filho de conhecidos da família e por aí vai) que rompia em prantos toda vez que a palavra "não" lhe chegava aos ouvidos. E não era preciso que o "não" fosse dirigido à criança, bastava que o neném captasse o som de um "não" pelo ar, vindo mesmo de alguma conversa alheia. A simples lembrança da existência do "não" já era uma suficiente causa de tristeza.

Pobre infante, e ele nem fazia idéia da quantidade de "nãos" que ainda viriam pela frente... A vida traz consigo milhares de afirmativas e infinitos impedimentos. O tempo pode trazer perseverança diante dos "nãos", mas nada nos torna capazes de engoli-los totalmente impávidos.

Alguém que gostou de enfrentar os valores poéticos do "não" foi João Cabral de Melo Neto. Quando o poeta escreve do nascer de uma vida ser tão bela "quanto um sim numa sala negativa", mesmo sendo vida severina... Merece respeito.

Também gosto de uma velha máxima da família: "o 'não' trago comigo, o 'sim' venho buscar". Nessa semana que passou fui buscar um 'sim', mas não tinha meu nome nele. Se alguém achar uma afirmativa perdida por aí, entre em contato.

Nenhum comentário: