30 de março de 2006

Acessibilidades

Que de tempos em tempos possamos nos recolher humildemente no escuro casulinho das nossas insignificâncias. É um exercício existencial muito salutar!

O preâmbulo meio brega acima, à la auto-ajuda, é só pra contar um ocorrido nas minhas recentes perambulações paulistanas.

Esperando o ônibus após uma tarde de aula no mestrado, fiquei conhecendo uma senhora que dependia de ajuda para tomar o ônibus, que seria o mesmo que o meu. Enquanto o dito não chegava, conversamos. Ela contou que era massoterapeuta, estava na profissão há 25 anos. Falou com muito carinho do seu trabalho, das técnicas que utilizava, dos tipos de paciente que atendia, dos clientes de décadas... Sendo um diálogo, chegou a vez dela perguntar o que eu fazia por ali. Contei que estudava ali pertinho. O quê? Um curso de mestrado. Exatamente em quê? Artes visuais. Ahh... interessante.

O ônibus chegou, ela foi ajudada a subir e nos despedimos.

Fiquei matutando. Coisas que são tão importantes para mim para outros não causam o menor afeto. E não é por desinteresse ou descaso. Mas entramos na questão das acessibilidades. A simpática senhora massoterapeuta era cega. Quantas diferenças de compreensão do mundo por causa de um funcionamento a mais ou a menos dos nossos sentidos. O que constitui todo o repertório visual do mundo para ela? Provavelmente nada. Mas quantos outros tipos de sensibilidade deixamos de aguçar, baseados na predominância da nossa percepção visual?

O mundo é extraordinariamente muito maior do que a rotina nos apresenta.

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