28 de fevereiro de 2010

Instantâneos

Sim, a culpa pela placidez deste blog pode ser jogada sim em cima do advento do Twitter e de outras redes sociais. Antes, o que eu tinha de cultivar guardadinho e esperar ir juntando volume e crescer em associações de ideias para poder gerar um texto para postar aqui, agora despejo rapidamente em 140 caracteres crus, sem tratamento, sem lapidação nenhuma. E assim, rápido como crio um twit, rápido se esvai.

Mas também me pergunto se, na febre de expelirmos considerações rápidas, momentâneas, que carreguem todo o frescor do momento em que nasceram, andamos falando um número muito maior de abobrinhas. Sim, se alguém espremer meu perfil do Twitter todo, de 1800 e poucos twits até agora, não dá pra preencher meia folha A4 de bom conteúdo.

E, pior, se na velocidade de publicarmos nossos pensamentos, será que não estamos perdendo a capacidade de retê-los conosco, mastigá-los e cultivá-los melhor? Ou seja, quanto mais se facilita a instantaneidade da comunicação, mais nos distanciamos da profundidade da meditação.

.........


Talvez o oposto da efemeridade das plataformas de comunicação curta, seria o bom e velho livro. E falando em livro, hoje faleceu, aos 95 anos, um dos brasileiros mais apaixonados por livros e um grande incentivador do hábito da leitura: José Mindlin.

"Eu brinco dizendo que no meu amor aos livros há um conteúdo patológico, mas é uma patologia que faz sentir bem. E tem outra particularidade importante: é incurável. Eu procuro, nos muitos contatos que tenho com a mocidade, inocular o vírus do amor aos livros, porque uma vez inoculado está resolvido – a pessoa não se livra mais. (...)"

Um comentário:

Styfens Machado disse...

Boa Mari belo post!!!

Acho que infelizmente essa é a tendência da sociedade (emburrecer), os poucos que "tinham cultura" se "desculturalizam" em frases mínimas!!

Acho que a preguiça e a velocidade que nos é cobrada guanhou do raciocínio, do pensamento das confabulações e do mínimo que representa a nossa verdadeira função: Pensar!!!

É muito mais simples vomitar em 140caracteres o que se vê e o que se "lê" (e bota aspas nisso) do que conseguir sentar para apreciar uma crônica que seja, quando muito um livro.

Trabalho, trânsito, faculdade, namoro, amigos, família, referências, "cultura" e muitas Obrigações...

Tudo o que nos resta são 140 letrinhas dispostas em quadro por quadro.

Valeu!!!

Bjos