10 de fevereiro de 2011

Autópsia



Ah, bem antigamente é que as coisas eram mais simples... podíamos dissecar a alma, dividi-la em pedaços para estudar suas partes. Jogar fora as pecinhas enferrujadas ou as engrenagens que não tinham mais função alguma. Mas aí, o tempo passou, um disse que as coisas não funcionavam bem assim, e aí alguém relembrou do Ari, o Aristóteles, que há muito tempo já tinha dito que o todo é maior do que a soma das partes e alguém inventou que era bacana dar o nome de Gestalt pra isso, e surgiram os fenomenologistas, Merleau Ponty, Foucault com a sua arqueologia do saber, e fizeram uma confusão, até chegar no Deleuze e Guattari e eu já não entendia mais nada. E a alma, coitada, virada e revirada por tanta gente, embaraçava-se sempre mais. Meteram-na num baú lacrado chamado ego, ideia do seu Freud. E custa uma prata e tanto para pedir pros amigos do Sigmund dar uma espiada lá dentro.

Eu sigo procurando um pé-de-cabra ou um grampo de cabelo para tentar abrir meu ataúde.

*série de fotografias de objetos desmontados de Todd McLellan.

Um comentário:

Nadiella Monteiro disse...

ótimo texto, mari.

mas o bom da alma é que ela é pra viver, não pra dissecar.
porque quando vc chega ao ponto de dissecação, já não há mais vida, o ser deixa de ser e as coisas são somente coisas...