24 de março de 2011

Quando a vida está de mudança



Dividir não é fácil. Dividir um espaço, uma mesa de trabalho, um cobertor, uma conexão de rede, um controle remoto, as contas, as vezes de pôr o lixo pra fora, as responsabilidades. Dividir uma casa então, é gerir, em regime socialista, um microcosmos. São duas (ou mais) forças criadoras/organizadoras/destruidoras que têm de fazer um verdadeiro balé espacial/emocional/espiritual para que as supercordas da convivência não se rompam ou se afrouxem. Parece tão complexo como uma tese de física ou ciências políticas ou teologia.

Nesta semana meu microcosmos está passando por mudanças. Depois de ser dividida por quase 5 anos pelas mesmas duas amigas, a casa se reconfigura. Um universo que se divide, duas vidas que reorganizam seus espaços. Os laços da amizade continuam os mesmos, só que agora têm as pontas bem mais compridas, já que não habitarão mais no mesmo CEP.

Com uma misturinha de tristeza e gratidão que relembro das pequeninas e valiosas lições que aprendi com a Lívia, a flatmate mais querida que tive.

• aprendi que vale a pena sujar as unhas de terra e cuidar de pequenos seres de folhas verdes que se desenvolvem todos os dias e se contentam com coisas tão simples como luz, água e um pouquinho de atenção;
• aprendi a usar uma cafeteira italiana e diferenciar um café espresso bem tirado de uma farsa;
• aprendi a lavar roupas na máquina de lavar (até então eu teimava em usar a técnica 100% "artesanal" de lavagem);
• ela me ensinou a fazer uma sopa de ervilha incrível;
• aprendi que, às vezes, a louça na pia pode esperar;
• aprendi como agradar as visitas com café fresco, queijo e doces sobre a mesa;
• aprendi que terminar um namoro não era tarefa fácil, pois ela já tinha passado por isso antes de mim;
• aprendi que a gente sobrevive, e volta a viver, e volta a brilhar;
• aprendi que nenhum romance do mundo pode substituir as verdadeiras amizades, que essas coisas precisam coexistir em equilíbrio;
• aprendi a ouvir mais e a orar mais pelos amigos;
• aprendi a amansar a voz e aproveitar os momentos de solitude;
• aprendi a ser mais amiga, a ser mais cristã e não ter vergonha de dizer "eu te amo".

A Lívia sai. Eu fico com a casa e com os vasinhos de plantas e os quadros das bonequinhas peruanas. Só não sei se ela sabe que, na verdade, ela está deixando muito, mas muito mais.

Obrigada.

6 comentários:

Tia Ju disse...

Mari,
Você não pode escolher a família que vai nascer, mas pode escolher seus amigos"
Considere-se alguém muito especial que Deus presenteou com uma amiga como a Lívia!!
Creia ela também leva um pouco do que aprendeu com vc!!!
" Amigo é coisa para se guardar do lado esquerdo do peito..."já dizia Milton Nascimento!!!!!!
Beijos da mãe do seu amigo!!!!srrsr

mãe do francisco disse...

que delicado e sincero post!
adorei.
acho que fica, ainda, mais uma lição: de não passar em branco nunca, de sempre tentar deixar algo bom em quem convive com a gente.
beijos da ju

Lívia disse...

Mari, morar com vc foi um sonho realizado, resposta de oração. Sou eu quem tem que agradecer..Beijo, beijo!

Anônimo disse...

Não aprendi com a Lívia tanta coisa como a Mari aprendeu, mas aprendí a admirá-la, amaá-la e serei sempre grata pela companhia, amiga e conselheira que sempre foi da Mari. Obrigada Lívia! que seu caminho seja na presença de Deus, e que você possa abençoar outros, pois essa é a sua vocação. Eula

tati travisani disse...

lindo texto mari!! linda amizade... que essa mudança as aproxime ainda mais!! um bjo em vcs

Tomás disse...

Que gostoso ler um texto tão cheio de gratidão e beleza, gostoso viver essas grandes amizades!

bj