6 de fevereiro de 2009

E no final das contas...

...estamos sempre buscando o que nos acolhe, o que nos é familiar. Andamos tanto, procuramos tanto, mas nunca nos adaptamos ao efeito "descolado" constante: é impossível viver "descoladamente" sempre, é insano querer sempre ser estrangeiro. Não é natural. Queremos pertencer e nos acoplar: desejamos ser apenas mais uma peça de um todo que faça sentido.

Essas elocoubrações vieram da leitura de Henri Nouwen, um padre holandês muito bom sujeito. Ganhei o livro A volta do filho pródigo: a história de um retorno para casa de uma querida amiga, e tem sido bacana ler novos modos de pensar uma história tão lida e relida como a parábola de Jesus sobre o filho que pede ao pai a antecipação da sua herança e sai pelo mundo, com o propósito de curtir a vida adoidado.

O final da parábola é conhecido: o filho torra a grana recebida na vida boa, mas uma hora a farra acaba: o caixa fica zerado e, como canta o velho blues, nobody knows you when you're down and out. Ou seja, o rapaz fica na pendura, ninguém o ajuda e é obrigado a arranjar um subemprego para ter o que comer. Até que um dia ele se lembra que até os empregados da casa do pai dele eram mais bem tratados do que ele agora. Ele resolve voltar, só que pede ao pai para ser tratado como empregado, já que ele não merecia voltar a ser tratado como filho, depois da desfeita de ter deixado a casa do pai. Só que o pai, muito feliz com o retorno do filho rebelde, perdoa-o e aceita-o de volta, como o filho perdido que foi achado.

Henri Nouwen fala da dificuldade em se descobrir numa terra estranha, cercado por desconhecidos: "Quando o filho mais jovem não era mais considerado um ser humano pelas pessoas à sua volta, sentiu a profundeza de seu isolamento, a mais completa solidão que alguém pode sentir.[...] Havia se desligado tanto do que dá a vida -- família, amigos, comunidade, relacionamentos e mesmo alimentação -- que a morte seria naturalmente o próximo passo." (p. 53)

Não há lugar como a nossa casa. É sempre para onde estamos tentando retornar. Ou encontrar pela primeira vez.

5 comentários:

Juliana Bragança disse...

nao ha mesmo melhor lugar que a nossa casa!
e é profundeza ou profundidade?!?
bjos

Mari Eller disse...

Ju, olhei o Aurelião e profundeza é sinõnimo de profundidade! bjim!

Thadeu disse...

Puxa... Mari! Se eu soubesse que você ia gostar tanto!!! rsrs.

Os livros do Henri Nouwen eram muito recomendados pelos meus professores de poimênica.

O legal desses autores, mais que inusitados para nós, é justamente a diferente forma de olhar o mundo e a Bíblia, e realmente são poucos que se aventuram a lançar outros olhares.

Além do Henri Nouwen talvez você goste de livros de Eugene Peterson e também Larry Crabb.

Abraço!!! Tenha um excelente fim de semana!

Anônimo disse...

Meu ninho ficou vazio desde que você bateu asas, mas é ótimo tê-la de volta no lar santista. É maravilhoso mantermos vínculos que sempre nos acrescentam e nos fazem sentir à vontade, de cara limpa, sem disfarces.
Ainda H. Nouwen:
"Muito do nosso sofrimento, vem de nossas lembranças, enterradas profundamente dentro de nós, as quais liberam um tipo de toxina que ataca o centro de nosso ser. Mostramos as boas lembranças, as ruins permanecem ocultas de nossa visão, de onde escapam da cura e causam dano permanente."
É p/pensar e deixar aflorar...
Beijos, Eula

Anônimo disse...

Mari, estava pensando...são muitas as lições desta parábola. Além da humildade do filho, que retorna à casa, a misericórdia, o perdão do Pai é algo que impressiona. Consigo me ver nas ações do filho, mas não consigo me ver na atitude do pai...eu, hein! O que será que isto significa? beijocas...Lívia